Vaca de Nariz Sutil

Ensaio para uma tópica poética do aparelho psíquico

 

Tenho mesmo de exercitar esse ser tão fora, esse ser tão dentro, essa coisa que me recita com palavras tão escalenas e tão cheias de notícias da morte. Noutros tempos, as palavras me defendiam de ouvir os ruídos perceptíveis nas próprias palavras; agora não, quase que só ouço ruídos, ou seja, pedaços daquilo que tanto tememos, a certeza que pode ser encontrada no bolso das pedras, ou na conversa de um homem consigo mesmo, quando ele se autoriza a ignorar o escândalo que provocaria no outro se comunicasse as palavras às quais ele se entrega, palavras que arruinariam qualquer esperança de que haja qualquer coisa mais no bolso da pedra do que pedra — nossa paixão por significados nos faz temer a hora da morte, faz com que não amemos a palavra dos loucos, só a palavra dos loucos pode arquitetar um inferno e um à beira deste, onde possamos instalar uma rede, deitarmos, e sonharmos o real como se este fosse coisa sonhável.

 


Wesley Peres

Wesley tem 31 anos, mas sempre acham que ele tem cara de 30. Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2006, com o romance Casa entre Vértebras (romance), Editora Record, 2007. É autor de Água Anônima (Prêmio Cora Coralina, 2001) e Rio Revoando (Com-Arte/USP, 2003). Em 2007 lançará Palimpsestos, pela UFG. Acha deplorável pessoas que gostam de Fanta Uva, gosta muito de estourar aquelas bolinhas de plástico e da literatura produzida na Papua-Nova Guiné. Ah, é psicanalista e mestre em estudos literários pela UFG e doutorando em Psicologia Clínica na UnB. Mora na Cataluña.

E-mail: wesleyperes@uol.com.br